terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Um cisco



Tem um cisco no olho do retrato
Tem um olhar quadrado
Tem uma louça no quarto errado
Tem grades e limão
Tem chão sem noção
Tem aparador sem rompantes
Tem um véu de veludo
Tem uma verdade negada
Uma dor camuflada



quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Flor de aço

Eu não tinha poesia
Eu via tudo
Fantasia
E do céu de mim mesma
Uma pedra
De aço
Em flor
Capaz de derrubar muros
Com perfumes
Transportar
Montanha de sul a norte
Quem achou que era frágil
Se enganou
A flor de aço
Germinou

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O velho palhaço


E numa velha palavra
Num boteco de esquina
O palhaço catava 
Palavras
De trás do cabelo,
Puxava 
Melodia

Na rima não dita,
Do bilhete não enviado,
Do caderno do menino,
Rabiscava 
Poesia


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

MásCara



Melina Guterres e Tatiane Trindade*

Não há o que me invade
Há o que visto
Máscaras coloridas
Verdes
Sem cor.

Silenciosas ,
Estéricas
Como a maré
Dos meus afetos

A superfície perdi
na música,
no teatro,
na arte
que não
habitou
em mim

Personagens
Infantis,
No tempo,
No ponteiro,

Entre pesos,
Medidas
De ventos
Encontros?


(participação conjunta. *convidada pela autora do blog)


Eu e minha poesia



Sob as Três Marias

Atravessa o tempo
Transborda a alma
Derrama a primavera

Somos muitos e tantos outros,
Somos nós, laços, fitas.
Somos a palavra, a estrada,
e a sina.

Nosso destino,
hoje, agora
A lua é cheia
O dia de Oxum
No palco,
na roda,
no fogo de chão.

Do céu à terra,
Há magia
Transpira a poesia.


(Em uma roda de fogo da Estância Santa Alice)

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Fé?

Entre música
Entre vidas
Entre vinda,
Entre nós,
O tempo
Entre nós,
Desejo

Entre nós,
Anseio

Entre nós...

Soluços, escuros,
Imundos,
Outras velharias

Entre nós,
Verdades, mentiras
Socorros e saídas
Hospitais

Duas almas,
E um terço..

Cadê a nossa fé?

domingo, 21 de agosto de 2016

Serenar

Cabeça de vento
Me carrega para os ares
Do mar onde a brisa é
Mais leve e o pensamento
Mais livre
Sou um polvo
Aprisionado
Na sala quadrada
De uma aula ultrapassada
Meus tentáculos
Quebram as paredes
Nem um tijolo conservador
Restará nessa estrutura
Pequena demais pra mim
Que cresço feito
Um bom roteiro de animação
Corpo de vento
Com maestria
Rege essa sinfonia
Da destruição
Que sejam altas as notas
Pra que não se criem
Novos muros
E numa comunidade
Mais circular
Exista amor de verdade
Não tão teórico
Mas prático
Como a liberdade
E que não se confuda
Com romance
Os apaixonados
Que se alcancem

Eis brisa do mar

Me sereno
Com teu tocar

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Inteira

Foto da autora: Melina Guterres

Cheguei
Inteira
E meia
Dos avessos
E a verso

De cabelo longo
Saia
E bota com esporas

De braços abertos
Escudo,
Chama,
Lança,
Espada
De passo pesado
Raízes do tempo...

Mulher fêmea
Mulher macho
Não importa a vestimenta
Guerreira!

E se te meto medo?
É por que estou inteira
Na colheita, colhi meus pedaços

Nem mais um passo
Bicho do mato
Teu cavalo,
Domei na trincheira

Naquela guerra... dos farrapos

terça-feira, 19 de julho de 2016

Águias

E numa luz
Da meia-noite
E num estado ruim
E na mesma rua
Do velho passado
E na hora que insiste
Que o ponteiro não gire,
Não mude, não grite
Arranca-lhe
O tempo
É ele se dissolve em mar
Num breve segundo de amar
Sal e bolhas
Que cicatrizam
Dores ao ventos
Que se recolham
Feito
Hora de dormir
E amanheça

Dignas de novos tempos
Águias

quinta-feira, 14 de julho de 2016

SEM SENTIDO


Era montanha
Era russa
Não era, é
Revolução
Uma doida varrida
Na multidão tão
Careta e carente
E despertou
Em tempo
De tocar
A alma
Cantou
Compôs
Inovou
O berço
E nasceu
Em dó maior
Lançou-se
Ao destino
De passos curtos
E pesados
Que nem o vento
Leva
Fez dos pés
Sua casa
Seu telhado
Seu porto seguro
Era em cada passo
Curto ou largo
Duro ou frouxo
Sincero como uma torta na cara
Que fez seu trilho
Voou feito trem
Que não há nesse mundo
E não era uma,
Era ventania
Na bagagem
Folhas de todas
estações

De sul a norte
Terras
Culturas
De tanto ver
De tanto sentir
Empurrou
O mundo que conhecera
Pra um João sem ninguém
Enterrou fantasias
de menina
Com flores em lápide
de vestido preto e curto
Vestiu o luto e morreu
Pra renascer

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Andorar


Tenho uma aventura
amarrada no cadarço
do meu salto alto
Pedras não suportam
o peso de mi alma
viram areia e amaciam
o andar
Pelo trilhos
voo com o trem
e levito como
o mendigo que de tudo se desfez
Pareço torta,
levo o velho rock na escuta,
toco minha gaita de boca imaginária
escrevo sobre doentes a duendes
tenho um lado escravo
um passado de luta e preguiça
tenho uma meia carteira
cartas a serem enviadas
personagens a escrever
histórias a contar e outras a criar
tenho um saco do tamanho da minha gaveta
e um cigarro de palha para não esquecer
que o campo é meu vizinho
a terra fria e seu inverno aquecido
a la lenha e chimarrão
tenho o voo da borboleta
em mãos
e desenho o mapa
de mi vida com
tinta óleo
crio cores e ventos
sou reflexo, espelhos
um balaio de fantasia
jogo pimenta
faço alquimia
saio livre
e parto do passado para o presente
com o voar das andorinhas...

domingo, 19 de junho de 2016

Escudos

Sem nome
sem trégua
sem romance
sem luz
sem amor
sem dor
sem nada
sem tudo
sem pouco
sem água
sem rosto
sem estrelas
sem lua
sem sol
só nuvens
só rosto estranhos
só amor de tropeços
sem zelo
sem cuidado
ao avessos
entre cortes
entre fortes
entre muros
espadas
escudos
Logo após a muralha,
o coração

A fenda


Recolhi velhos poemas
Resgatei camisetas velhas
Vesti uma toga
Segurei um canudo
Nele dizia "emoção"

E num velho túnel sem luz
Incendiei o meu orgulho
Assim via o caminho
Sem lentes ou outras
percepções de isqueiros
de terceiros.

Numa curva derrubei meu lenço
deixei para trás
doeu como quem se despende
do velho berço
E numa criança
sua boneca
o retrato do avesso
a velha à espera
o vento
a vida que passa
sem tropeços
só em finda
velocidade do tempo





segunda-feira, 4 de abril de 2016

Manter a canção

E
Num súbito olhar
Engolia o mundo
Desafinava o tom
Andava
Com a mão no peito
Esquerda a de sempre
Sem realengos
Se perderam os outros
Que tentaram fazer "direito"
E na curva sempre igual
Desviaram percussos
Não mantiveram a mão do lado esquerdo
Exceto no espelho
Igual a tantos que perderam o sonho,
Roubando a si mesmo
Não são infiéis,
Não sabem da fé...
Imitam para cristão vê,
Sem saber que "Deus" que é.

Sudeste
Mas em outras curvas,
A rua,
E na quase esquina,
A batida de pé,
Cabelos brancos,
Um compasso maior
Uma curva musical
Uma esfera familiar
E a fidelidade
O tempo passava, amigos partiam
Ele em missão, pedia silêncio
A canção era pra ser ouvida.
Em seu bar, músicos e frequentadores vibravam na canção.

Outro dia, outro ser,
Sua begala, o tempo.
Sua fala, sua paixão, 
Quem entregou o corpo a nação, contava à multidão, a canção.

Um livro derramado
Em mil braços,
Poetas e escritores tornavam bela a canção.

Do sopro do charuto,
a inspiração, entre películas
Produtores e cineastas
Mostravam a canção,

E o humor parecia sério, 
O sorriso por um acorde,
Humoristas satirizavam a falta da canção.

A máscara caia no teatro
De quem o torna solo sagrado.
E nas redes, em teias,
E numa voz que se alimenta,
Atores, diretores encenavam a canção.

Entre arte e religiosidade,  
no suor do povo escravo,
Denunciava ela a
Discriminação à canção 

Centro-oeste
Olhos verdes,
De alma vermelha,
Vivendo numa aldeia,
Lutando pela sobrevivência alheia,
Branco e índio
Cantavam a canção. 

Sul
Uniforme branco,
Liderando
Aos de 90 anos,
A umbandista,
Mantinha a canção 

Nordeste
Sua vaidade era pequena,
Seus cabelos longos,
Sua Igreja de pé, seu passado, aprendizado,
A pastora orava a canção.

Norte
E com a vida nos braços,
O descontamento em laço,
Esbravejava aos homens,  às mulheres da canção

Exterior
E ele do outro lado do mundo, 
Lutava contra própria ilusão,  
Dizia sempre "gratidão" zelando a canção.


Dentro e agora
Pulsa!
Sem partido e ilusões,
de tanto ouvir,
Aprendeu a sentir 
A canção 
Casou de eterno
Com os sábias 

E ela que engolia tudo que via,
recolhia histórias, 
Abrigava o estranho,
Velho e o novo,
Passado, presente, futuro
Contava moedas
Pegava o metrô, 
E no centro gritava:
Democracia
PARA Jamais esquecer da canção


P.S: Inspirado em pessoas reais


sexta-feira, 4 de março de 2016

Areias..

E tu que te jogaste pela janela com Frank Sinatra
E tu que venceu o ego e mordeu o cão da raiva
E tu que manteve a calma
E tu que ensaiaste
E tu que caiu de paraquedas
E tu que abriu asas
E tu que saiu do jogo
E tu que levou o fora,
Acordou?